O QUE É BÊNÇÃO E MALDIÇÃO?

Nosso objetivo agora será resgatar a idéia e o sentido original das palavras bênção e maldição. Em teologia chama-se isso de exegese. O termo refere-se ao estudo da interpretação exata que pode ser aplicada a um texto, frase ou palavra, a fim de se compreender melhor o seu sentido original. A palavra bênção em sua raiz, e no contexto onde aparece, está revestida de grande significado para o entendimento do seu real sentido.

Outra coisa a considerar é que nos textos originais bíblicos, que foram escritos em hebraico e grego (e algumas partes em aramaico), diversos termos são utilizados para denotar tipos específicos de maldição. Agrupá-los todos, então, sob o mesmo equivalente em português “amaldiçoar” ou “maldição”, não é fazer uma boa tradução.

O termo bênção em hebraico é BARAK e no grego EULOGEO. Em hebraico, pelo menos seis palavras são utilizadas para especificar tipos ou formas de maldição: ALAH, QALAL, ‘ARAR, QABAB, NAQAB e ZA’AM. Em grego, aparecem quatro: ANATHEMA, KATARAOMAI, KAKOLOGEO e RHAKA. Analisaremos apenas algumas destas palavras, enquanto que outras serão descritas e discutidas mais detalhadamente no Apêndice B.

O que é Bênção?

Fato interessante é que desde que comecei a trabalhar com libertação, sempre ative-me mais a pregar sobre maldições, muito embora não tivesse compreensão do sentido original desta palavra. Entendia o que a maldição podia fazer na vida de alguém, mas não sabia o que significava uma maldição. No que concerne a bênção, o problema era o mesmo. Descobri que temos uma facilidade de falarmos de determinados temas, sem ao mesmo tempo sabermos o sentido dos mesmos. Faça uma experiência. Se, por exemplo, em qualquer culto, você se dirigi à sua igreja e pergunta, “quantos aqui nesta noite querem a bênção?”, terá rapidamente a resposta da igreja, “eu! Todos queremos!”. Mas se imediatamente questiona uma vez mais o seu auditório, “mas queridos irmãos, o que é bênção? Vocês sabem o que significa este princípio espiritual nas Escrituras?”, mui provavelmente a maioria não saberá responder. Buscam o que não compreendem adequadamente.

Duas coisas importantes precisam ser ressaltadas no sentido da palavra bênção. Primeiramente, ela provém do hebraico BARAK, que tem na sua raiz os seguintes significados: ajoelhar-se, submeter-se, honrar um superior. Assim sendo, quem quer a bênção precisa manter uma relação de obediência com aquele de onde ela provém: Deus! É impossível ter a bênção e ao mesmo tempo viver uma vida fora dos padrões divinos. É uma grande incoerência. A palavra diz, “Se atentamente ouvirdes o Senhor teu Deus...Bendito serás...”, ou seja: a obediência sempre precede a bênção.

Outra coisa também pode ser mencionada. Vejo hoje muitos irmãos ou pessoas quaisquer, que estão desesperados atrás da bênção. Perseguem a bênção a todo custo. Participam de todas as campanhas possíveis. O problemas é que alguns não conseguem alcança-la a todo custo. Mas por quê? Veja o que diz a Palavra de Deus em Deuteronômio 28, “Se ouvirdes a voz do Senhor teu Deus, então virão sobre ti e te ALCANÇARÃO todas estas bênçãos...” (v.2). A bênção sempre vem por trás, ou seja, é ela que nos alcança! Não adianta correr atrás dela como muitos fazem, pois ela possui esta característica singular: nos alcança pelas costas. O que aprendemos com este ensino é que nosso dever é buscar ao Senhor, servi-lo e honra-lo de todas as maneiras em nossa vida diária. Aí sim, a bênção automaticamente nos alcançará. Não vamos então colocar o carro na frente dos bois, como querem muitos irmãos. Esta é uma inversão que pode nos custar caro. O reino de Deus deve ser nossa prioridade. E isto nos foi muito bem ensinado por Jesus, “buscai pois em primeiro lugar o reino, e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mt ). A face do Pai, vem em primeiro lugar e as ‘coisas acrescentadas’, que é a bênção, será uma seqüência natural de nossa atitude de quebrantamento.

Agora: quando a bênção nos alcança por trás, o que ela faz conosco? Veja como isto é tremendo. Vou lhe explicar. Estive lendo vários dicionários teológicos e vendo como os estudiosos definem a palavra bênção. Há uma unanimidade na interpretação. Bênção tem sido entendida como o poder espiritual que Deus concede a alguém, para que alcance sucesso, prosperidade, fecundidade, multiplicação, em suma: portas abertas! . Há então uma ligação íntima das palavras ‘bênção’ e ‘multiplicação’. Quando o Senhor diz, “Bendito serás tu na cidade e bendito serás no campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas (...)’ (Dt 28:3,4), quer dizer que teremos êxito, sucesso e prosperidade em todas estas áreas. Bênção então, é um princípio espiritual multiplicador. Interessante foi quando eu descobri a ligação destas palavras. Comecei a analisar outras passagens e descobri mesmo que quase todas as vezes que o termo bênção aparece na Bíblia, ou antes ou depois dele, vem algo falando de multiplicação e prosperidade. Em Gênesis 1: 28, está escrito, “e Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos...”. Ainda no capítulo 12 de Gênesis, Deus falou a Abraão, “...Sê tu uma bênção”, mas nos versos anteriores, declarou-lhe, “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção” (v.2). Eu estava lendo a pouco tempo um episódio na Bíblia, onde Jesus estava num lugar onde não havia comida e tinha perante si uma multidão de mais de cinco mil pessoas famintas. Lembra-se deste acontecimento? Alguém lhe trouxe apenas cinco pães e dois peixes, e a Bíblia diz que Jesus “erguendo os olhos ao céu, os abençoou. Depois, tendo partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes, às multidões. Todos comeram e se fartaram...” (Mateus 14:19). Eu poderia citar muitas outras passagens para provar que bênção é um princípio divino que abre portas, que prospera.

Em termos práticos, se alguém atrai o princípio da bênção para áreas de sua vida, como: casamento, ministério, igreja, finanças, vida profissional, etc., estará sob a influência de um poder espiritual que o ‘empurrará’ para frente nestas áreas. É exatamente isto que acontece. Mas a obediência é o princípio chave que chama a bênção para as nossas vidas. Infelizmente muitos abdicaram desta condição espiritual e ainda não se arrependeram disto.


O que é Maldição?

Como já disse, existem cerca de seis palavras no hebraico para descrever tipos de maldições e quatro em grego. Mas aqui apenas nos deteremos a três palavras. A primeira delas é ALAH. Este vocábulo aparece cerca de 35 vezes no Antigo Testamento e sempre descreve uma maldição com origem na quebra da aliança com Deus. Veja algumas passagens. No momento histórico de Deuteronômio 27 e 28, quando Deus realizou um pacto com o seu povo, ele adverte: “ninguém que, ouvindo as palavras desta maldição [ALAH], se abençoe no íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração”; e, ainda diz mais: “O SENHOR o separará de todas as tribos de Israel para calamidade, segundo todas as maldições [ALAH] da aliança escrita neste livro da lei.” Também no livro de Daniel, quando ele se refere aos castigos do descumprimento da lei: “Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se, para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição [ALAH] e as imprecações que estão escritas na lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós; porque temos pecado contra ti.” Em outras passagens o termo também é sempre usado com este sentido (Isaías 24:6; Jeremias 23:10; 42:18; 44:12). Podemos dizer , então, mais uma vez que ALAH é a expressão bíblica usada para descrever a maldição advinda da quebra da nossa aliança com Deus.

A Segunda palavra é QALAL. Este termo aparece cerca de 130 vezes no Antigo Testamento. O sentido básico de sua raiz quer dizer “diminuir”, “lidar desdenhosamente”, “ridicularizar”, “zombar”. Significa desejar a alguém uma posição inferior ou rebaixá-la de seu estado. O veículo que canalizará este tipo de maldição é a língua. Na antiguidade atribuía-se grande poder à palavra falada, e cria-se que zombar ou proferir uma sentença verbal negativa a qualquer pessoa podia realmente levantar ou provocar poderes destrutivos que iriam diminuir sua felicidade.

Os pagãos achavam que podiam manipular os deuses através de suas palavras. É devido a isso que vemos Golias amaldiçoando a Davi (1Sm 17:43) e Balaão sendo chamado para amaldiçoar Israel (Nm 22:6). O salmista diz também que os inimigos estão constantemente proferindo maldições (Sl 62:4; 109:28). QALAL foi ainda usada para expressar o desprezo que Hagar tinha por Sara (Gn 16:4-5). No entanto, é bom que se frise o que está escrito em Provérbios: “Como o pássaro que foge, como a andorinha no seu vôo, assim, a maldição [QALAL] sem causa não cumpre.” Sendo assim, uma QALAL infundada não tem valor algum. Em síntese, esta palavra sempre aparece associado à idéia tradicional de “lançar uma praga”, “proferir uma maldição”, “verbalizar algo ruim contra uma pessoa ou objeto”. Seus efeitos podem ser trágicos e duradouros, do ponto de vista espiritual.
Em último lugar temos a palavra ‘ARAR. Neste exato momento, gostaria de chamar especialmente a sua atenção. Temos agora a palavra usada pelas Escrituras para descrever uma pessoa debaixo da maldição. Arar aparece cerca de 63 vezes no Antigo Testamento. Agora, preste atenção na análise da raiz deste termo, vista no Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, “Com base no acadiano ARÃRU, ‘capturar, prender’, e no substantivo IRRITU, ‘armadilha, funda’, Brichto, seguindo Speiser, apresenta a interpretação de que o hebraico Arar significa ‘prender (por encantamento), cercar com obstáculos, deixar sem forças para resistir’.” Eu fiquei impressionado quando descobri isto, pois é exatamente assim que a maldição atua sobre quem a possuiu: prende-a em uma área de sua vida

Basta uma rápida olhada no significado de Arar e notaremos que é exatamente o contrário de Barak (ou seja, bênção). Enquanto barak libera o indivíduo para “prosperar”, uma Arar irá prendê-lo, cercá-lo, ou seja, nada irá de fato “andar”. Bênção e maldição são princípios ativos que, por intermédio de forças espirituais (divinas ou diabólicas), poderão arruinar ou edificar as diversas áreas da vida humana. A obediência aos princípios divinos atrai a bênção, mas a desobediência pode ser fatal, subjugando a pessoa a uma maldição que poderá neutralizar muito os seus potenciais.

Uma coisa é importante: as duas maldições anteriormente analisadas, Alah e Qalal, tão somente representam aspectos descritivos, ou seja, predizem o que poderá acontecer. Mas Arar é a maldição já acontecida, ou seja, concretizada. Arar é a condição a que se chegou depois que uma Qalal ou Alah foi movimentada contra alguém. Arar é o estado de amaldiçoado com todas as suas implicações. Por exemplo, vamos supor que no passado uma mãe, contrária ao casamento da filha, tenha dito que tal relacionamento não daria certo e que a filha iria chorar “lágrimas de sangue” com o esposo. O que essa mãe fez foi lançar uma Qalal. Quando, após algum tempo de casada, o marido de fato começar a dar um trabalho terrível e a filha padecer terrivelmente em suas mãos, ela estará sofrendo os reflexos de uma Arar, ou seja, a maldição cumprida.

O termo ‘ARAR aparece em diversas passagens bíblicas, sempre com esse mesmo sentido. Em Gênesis 3:14, Deus disse à serpente: “maldita és entre todos os animais domésticos”; e no versículo 17: “maldita é a terra por tua causa”. No capítulo 4 de Gênesis Deus também diz a Caim, “maldito por sobre a terra” (v. 11). No livro de Números, temos o relato de Balaão sendo convocado por Balaque, para que diga algumas palavras ou recite algum encantamento a fim de que Israel fique “imobilizado” [Arar], ou seja, impedido de prosperar em sua campanha de conquista da terra de Canaã (Nm 22:6). Mas talvez os textos que descrevam com mais exatidão a realidade terrível de uma Arar encontrem-se em Deuteronômio 27 e 28. “E estes para amaldiçoar [qalal], estarão sobre o monte Ebal” (v. 13), ou seja, estarão proferindo as maldições; e do versículo 15 em diante encontramos: “Maldito [‘ARAR] o homem...”. O que infringir as mandamentos da aliança divina deverá arcar com as conseqüências da maldição. No capítulo 28, dos versículos 15 até 68, estão expostos em detalhes os castigos da desobediência, ou seja, os reflexos de uma Arar. Talvez seja um dos textos mais terríveis da Bíblia, no que concerne à descrição da severidade do castigo divino. De fato, não compensa desobedecer.


Pr. Alcione Emerich

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